Para um amigo, um tio, um desconhecido.
De coração grandioso, tamanho mediano, moreno, cabelo cortado rente a testa, movimentos livres, de grande gesticulação que expressa a exata emoção do momento. Alguém que não teme sua reação, que chora, sorri, magoa e perdoa com a sinceridade que nele é fundamental e prioritária. Com uma inteligência rápida, corajosa, às vezes súbita demais, escapulida. Me Eis aqui, um NOME, pelo menos um deles.
No fundo eu sou simples, mas todos me esculpem aos seus olhos dominadores, como uma coisa difícil de ser tratada, um peixe escamento, que por não expor-se da forma fútil deles, merece as facadas mais violentas, com lâminas frias e puras de sentimentos bons.
Eu não sou fácil também, pelo menos um de mim, não o é. Às vezes acordo alegre, feliz, educada, gentil... Mas essa não sou eu completamente. A verdade é que eu sou um nada, que desperta um nada, e vai se construindo ao longo do dia, um nada que só ao anoitecer, contempla quem realmente é. Um nada que se entrega ao dia por inteiro, à emoção do instante da briga, ao pequeno delírio dos segundos que procedem ao beijo, eu sou aquilo, naquele momento, só quem sabe disso, consegue me desmontar.
Por outro lado, eu sou muito a outra. A outra que me olha enviesado, de lado... A outra que me permite chorar, rir, brigar. A outra não sabe disso também. Mas eu sou ele num corpo médio, moreno, cabelos rudes e pensamentos sinceros.
Hoje mesmo eu acordei com vontade que a outra fosse eu, que escrevesse por si o que achava que era. Queria que a outra, sabido que era o reflexo, escrevesse uma crônica de mim, aliás, de o “mim” de agora.
Em nome desse outro, já reprimi muita de minhas atitudes, já fiquei onde não queria estar para que, sendo agradável, eu fosse reconhecido. Meu temperamento é forte. Eu não ouço ninguém. Eu ouço todo mundo. Eu me desfaço do orgulho, mesmo sendo compulsivamente orgulhoso. De fato, sou inquieta. Muito de mim pode ou não querer aquele abraço que nasce no outro na hora errada. Aquele abraço que mente por não apertar forte; aquelas palavras que não quiseram ir contra as minhas. Eu gosto do desafio, da busca incansável, do difícil de entender, do difícil de explicar, do simples eu te amo, do simples eu te odeio, sobretudo da sinceridade que planta, cultiva e brota.
As pessoas não conseguem, por muito tempo, me entender ou me aceitar. Aceitam o agradável, o que pisca no final da exposição, o que rir oco às idiotices ditas. Eles não sabem amar o simples, fazem sacrifícios para conseguirem ser verdadeiros, fazem um jejum de emoções.
Eu desejo ser entendida... Ser escutadao... Como qualquer pessoa. Eu desejo ver o meu nome na tela piscando, não por merecer, mas pra ver que o trabalho suado e esforçoso valeu a pena. Todo mundo deseja isso. Temem falar, porém sonham, secretamente, em terem êxito e a recompensa dos aplausos.
(...)
Minha vida religiosa não é aquela que o púbito denuncia, ali eu grito... Mas secretamente eu preciso apenas sussurrar. Meu intimo com Ele que importa. A todo momento Ele, comigo, me adverte, me sinaliza o melhor caminho, e suporta comigo todo o fardo que na vida há. Ele é o melhor pra mim. E só com ele o meu nada que acorda diferente todo dia, é tudo.
domingo, 27 de dezembro de 2009
Aperte o off

E quando todos desligam as luzes. E as portas se trancam. Eu fico aqui sozinho, conversando com o chiado da TV dessas madrugadas de chuvas fininhas. Nada quer ser real, a felicidade se fantasia de livros, de programas bobos de humor, de céus abrilhantados, que espiados por mim, cutucam e despertam uma vontade desesperada de ser feliz. Não há ilusão. Não há sede de que o telefone toque e a mão trêmula atenda. Não há dedos que desejem discar o seu número. Não há número. Está tudo apagado. Como as casas dos estranhos. Como os letreiros do centro. Como as velas do funeral. Já parti. Já doeu demais. Já faz horas que eu não conto mais os minutos. Não há mais minutos que caibam os nossos sentimentos. Acabou. Adoeceu em overdose. Morreu entre remédios. Nem houve desejo seu. Nem houve orgulho meu. Não houve se quer a sinceridade aliada de sempre. Não houve nada. Você não quis ser infeliz comigo. Agora seja infeliz sozinho. Somos agora uma página limpa do Word que se mancha de uma tinta que nem mesmo existe. Porque sempre foi assim, sempre foram palavras digitadas, equivocadamente, enviadas. Não haverá mais lamento. Não haverá mais tormento. Porque agora não passamos de ‘um programa de televisão que saiu do ar, e como ninguém desliga o aparelho de TV, fica aquele chiado incomodando no escuro’
Dando noticias
Eu não sei conviver com indecisões. Sinto que está na hora de engavetar certezas mais uma vez. Eu preciso entender como funciona o meu pensamento. Como posso saturá-lo, negá-lo. Como posso exaltá-lo e revigorá-lo. Vivo dentro de uma bolha levemente molhada, que não se sente fria ou quente, que não se percebe grande ou pequena, que não se acha forte ou frágil. É talvez a hora de estourá-la. É talvez a hora de levar a sério todas as convicções que sufocam as alternativas. As opções falharam demais. Escolher é desagradável. Prefiro o conforto de uma liberdade mais regulada. Às vezes nem acredito nas linhas anteriores, nos parágrafos convulsos. Às vezes dispenso revisões em frases escritas. Eu alterno entre enterrar os mortos e revivê-los. Mas agora estou decidido: quando for necessário enterrar – me apegarei à intolerância que me invade de tempos em tempos – e vou sepultá-lo sem retorcer-me. Não quero mais hesitar, as dúvidas são boas, são saudáveis e eu gosto delas. Mas ardem o pensar. Atrofia os personagens, que desconcertados perdem seus roteiros. Há regulamentos. Há regras. Há padrões. Falta-me agora engulí-los com pouco d’água. Porque nem sempre a dúvida pode ser um elo tão forte e duradouro (entre as pessoas) quanto a certeza.
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