
Destituída de tudo, decidiu seguir sem eles, livrar-se deles. Escolheu, de comum acordo com o triste reflexo de seus olhos apagados no espelho, que ela mesma matasse aquelas velhas expectativas fadadas ao fracasso pelo tempo, que se estendera demais, e pela vida, que insistia em mostrar-se apática e fria. Colocou tudo em um balão e soltou aos céus. Que o vento os levasse, que o sol os esquentasse ou a chuva, se possível assim o fosse, os molhasse até que desmanchassem como pedaços antigos de papel amarelado. Que subissem bem alto e voltassem ao ponto de origem se o destino assim o determinasse… Que vagassem pelo mundo, sobrevoassem outras paisagens, se redescobrissem na insistente exploração daquele sem fim azul… Que ganhassem outras formas, se readaptassem conforme o balançar daquele balão repleto, onde as vontades perdidas se misturavam aos desejos abandonados…
Subiu pro céu um balão pesado, que carregava todos os sonhos que desistira de sonhar… Ela ficou lá, observando seu balão subir e esperando, com a sagacidade sonhadora da menina que ainda abrigava dentro de si, que o futuro trouxesse de volta a possibilidade de sonhar pelo menos mais uma vez.