domingo, 28 de julho de 2013
Quando o amor por uma lasciva fêmea me amarrotava o coração, senti a necessidade de largar o meu feixe de palavras incendiárias a respeito do que julgo ser o homem, de para onde caminha a humanidade e de todo o esterco filosófico que em tantos anos de história fora produzido e levado a sério – Bela arte, isso é inegável. A arte se torna bela ao passo que nela há o crime, o punhal que enxerta na carne e faz jorrar o sangue, que traz à luz do mundo visceral as vísceras, o acidente e o profundo mistério incoercível de todas as coisas. Ser tudo no crime, diz Pessoa. Sintetiza, com isso, o ideário principal, a sublimação, a catarse, o amor, o ódio, e o panteísmo em uma única frase. Ser tudo no crime, verso incólume da Ode Marítima, que ora vaga pelo que se vê ora pelo que se sente, e abrevia na máxima força dessas poucas palavras o que deve ser a criação artística que subleva. Mas havia o amor e os meus sonos eram tranqüilos, tudo acontecia por dentro como se nada acontecesse por fora; chega a ser constrangedor expurgar essas palavras, mas aqui não omito de expor o que julgo ser a minha verdade: é um exame de auto-consciência pela vergonha própria. Há no mundo milhões de “Srs.K”, que, diferentes dele, dardo d’O Processo, livro de Kafka, sabem o porquê de suas sentenças e permanecem inócuos em relação a isso, como se não houvesse nada, como se a busca pelo pão e pela ejaculação diária lhes vendasse os olhos e lhes impossibilitasse de desejar algo além. Compreendamos: para seres que há algum tempo andavam como macacos, até que evoluímos... corporalmente; a irracionalidade é a mesma e o instinto também. Devo me dizer humanista? Ora, quem cria a síntese e moldura a imagem difusa da verdade são os filósofos. A mim cabe dar-vos a encenação de minha queda na lama, afinal também desejo por ser ídolo. Eles só são amados, os ídolos, quando dão o show, quando dramatizam, à maneira Beckettiana, o espetáculo. A flor do amor fora pisada, amalgamei com poéticas e hediondas lágrimas pétala por pétala; de início, surgem a angústia e o ódio; depois, quando passado algum tempo, vem todo o ar de uma liberdade que não existe; e você se sente livre por não mais haver de se subjugar a nada, só à inutilidade de suas considerações reduzidas sobre a vida, ao arroubo de pensar, que por ter uma soma de pecúlio, é alguma coisa; e a masturbação diária ganha vida com o corpo de uma outra mulher. Sobreviver, eis máxima. Pela sobrevivência eu vivo; procrastinar-se é metafísica e está além dos homens.
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