terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

................e coisas................


Por vezes, sem bem se saber porque sim ou porque não, encalhamos numa frase, numa palavra, numa expressão que teima em se nos atravessar no espírito sobrepondo-se a tudo, a propósito ou a despropósito, como se fora para nós, razão de vida ou de morte.
Se pararmos para pensar, quase não se acha sentido na obstinação, mas a verdade é que acontece.
E, quase sempre nos sai uma exclamação entediada: - olha que coisa!
E, sendo esta expressão usada a torto e a direito com tantos e tão diversos significados, nela nem reparamos, nem sequer, quando a estamos a utilizar.
Quando o empregado gracejou dizendo: qualquer coisa, não tenho! -

Recordei um bar, em Óbidos, onde, mediante o mesmo pedido, foi servida uma bebida licorosa, engarrafada, com o rótulo de: “Qualquer Coisa” .
Perante a reacção divertida do freguês que comentou a rir: - olha que coisa!
ocorreu-me inventariar um pouco a versatilidade de uso da palavra coisa.
Coisa – substantivo feminino que, segundo o dicionário, quer dizer: - Em sentido geral - tudo o que existe ou pode existir. Ente, objecto.
E, assim sendo, aqui estamos nós frente a algo, que, sendo nada, em exclusivo, - tudo, pode significar.
Sei muita coisa! – (misteriosa e provocatória a expressão! Ameaçadora, até!
Que coisa! – (tanto pode ser espanto, como surpresa ou, aborrecimento)
Olha a grande coisa! – (aqui já há desdém! Desprezo, pouca importância) Coisa engraçada! – (está bem explícito o agrado!)
Coisa sem graça! – (aqui, é evidente o desagrado, a crítica)
Coisa de ignorantes! – (vigora o mesmo sentimento mas com um tom mais injurioso)
Coisa de quem sabe! - Coisa de admirar! – (aplauso, admiração)
Coisa de espanto! Coisa triste! Coisa alegre! (Assim se faz a variante de comentários de emoções)
Coisa de arrepiar! – Coisas do arco-da-velha! (o medo e a estranheza ficam patentes)
Coisa de crianças! Coisa de pobres! Coisa de ricos! – (desde a futilidade, ao desdém, tudo cabe)
Coisas para rir! Coisas para chorar! (a abrangência de motivos fica expressa)
Coisas do mar – coisas da terra! (referência a origens, marinhas ou terrenas)
Coisas do diabo – coisas de Deus! (aqui já evoca o sobrenatural)
Coisas de arromba! – Coisas de eleição! – (o enfoque vai para a grandeza, a repercussão a distinção)
Coisa de mestre! (a qualidade, a perfeição)
Aqui há coisa! - Coisa ruim! – (o desagrado, a suspeição são evidentes)
A coisa correu bem – ou correu mal! (a evidência)
Alguma coisa há! – Aqui tem coisa! (Tem alguma coisa escondida, a
Desconfiança)
Coisa de preço! – Coisa cara!
Coisa de vulto! – Coisa feia! – Coisa mal feita! – Coisa bem feita!
Coisas e loisas! – Coisas pretas! - Coisas desprezíveis!
Coisas importantes, coisa nenhuma!
Coisa em primeira-mão! – Em segunda mão! (são as formas correntes de fazer avaliação, de formular juízos!)
Não dizer coisa com coisa! Equivale a não dizer a bota com a perdigota!
E, aqui estão juntinhas muitas coisas, sobre coisas, que pouca coisa ou nada dizem, mas que, por vezes, na hora certa, na oportunidade adequada se podem tornar coisa boa ou coisa má consoante quem o diz ou quem o ouve.
É que, temos que confessar: - há cada coisa!

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