
Como se houvesse respaldo para ser menos do que era, insistia em não ser mesmo que ainda o fosse. Como se o tempo servisse como base, criava alicerces frágeis em cima dos momentos pequenos e desabáveis. Como se as horas nada significassem, apenas sentava e as via passar… Como se as notas musicais não emitissem mais sons, como se os desejos não mais solidificassem esperanças, como se as palavras faltassem, como se as lágrimas abafadas pudessem redimir o sentimento, como se o medo pudesse trilhar estradas, vagava entre o ontem e o nunca mais sem desligar-se do talvez.
Quanto mais tentava, menos conseguia; quanto mais buscava, mais estagnava; quanto mais precisava, menos encontrava. Na paz de um marasmo destorcido, encolhia-se como pétala esturricada, escapava como dormideira ao toque das mãos. Sequer encontrava sombras onde pudesse depositar quaisquer outras sombras das quais quisesse se livrar; apenas o deserto arenoso e seco do futuro incerto e capcioso de amanhãs tortos e sem poesia. Já não sobrara mais nada; não ficara mais nada; nada mais fazia sentido.
Ficou velha antes do tempo. Não sabia ao certo se pela vida que viveu ou por todo o tanto que deixou de viver. Não sabia quando, nem como e nem por que… Ou talvez soubesse, mas omitia por defesa, em cautela de um tempo que já não era mais seu. Dos farrapos esquecidos no passado já não se compunham os trajes de gala; dos sonhos adormecidos, não resplandeciam mais esperanças; nos reflexos opacos não havia brilho algum. Não havia serenatas, nem sorrisos, nem momentos de perdição, nem tédio. Alguma coisa ficou pra trás, deixada, perdida, esquecida, adormecida… Velha, bem antes do tempo.
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