sexta-feira, 20 de maio de 2011

Isso também passa

Um temporal se aproxima e ainda está no horizonte, mas há relâmpagos no ar. Será possível sentir o estalo de eletricidade no vento? A essa altura essa era mais uma pergunta que eu não sabia responder. Meu corpo já estava ficando insensível e eu respirava com muita dificuldade. O que estaria acontecendo? Não fazia a menor ideia. Mas era melhor eu ir andando logo, a cada vez mais longe, para o norte, esperando encontrar o primeiro sinal de uma estalagem.

Era horrivel aquela sensação. Como se milhoes de alfinetes furassem meu corpo com a mesma intensidade, ao mesmo tempo. Eu estava sozinha e acreditava que permaneceria assim por bastante tempo, pois não havia sinal de outra vida, a não ser a minha. Qualquer barulho, qualquer sinal, o sinal de uma simples respiração, qualquer coisa iria aliviar o meu medo interno, e agora eterno, da solidão.

Então as gotas gélidas da chuva começaram a cair e eu não tinha como evitá-las, estava sozinha no alto de uma montanha, em algum lugar desse planeta, pois o senso de direção fora perdido há tempos. Não me restou mais nada, a não ser deitar-me ali e sentir as gotas cairem pelo meu corpo. Era uma sensação incômoda, mas bastante refrescante, e eu sempre gostei de chuva, de senti-la em meu rosto.

A medida que o dia se alongava e a noite caía, eu me sentia bastante desprotegida, mas segura de mim mesma. Como isso era possivel? Não fazia ideia, mas não me dava ao esforço de pensar acerca disso. Nada mais adiantava, e eu continuava andando para o norte, onde o vento bagunçava meus cabelos. Repetia para mim mesma "isso também passa" e então deixei-me levar por esse pensamento. Tudo realmente passa, e nada é eterno. As amizades que fiz antes, hoje já não são mais tão fortes asim, pois cá estou, e só o que ouço é a minha respiração. As coisas que eu acreditava que eram importantes, não passavam de banalidades. Tudo o que parecia indispensável foi deixado para trás, e tudo isso passou. Não tenho mágoas nem rancores, porque, de uma forma ou de outra, eu teria que conviver com isso, mais cedo ou mais tarde.

E então o tempo passou, e esse dia passou a fazer parte da lembrança das coisas que passaram e me ajudaram a construir quem sou. Porque faça o que fizer na vida, será insignificante, mas é importante que se faça.

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