A sua verdade tinha caído, mais uma desilusão, mais uma tristeza lhe acorrentava os pés e a prendia naquele quarto escuro. Nada lhe fazia sentido alem de redigir palavras tristes e dar finais melancólicos aos seus personagens imaginários. Pintava com cores escuras, traços retos, contidos, formas puras e simples. Explodia toda sua raiva da vida em arte. Era belo, claro, era primoroso. Mas era triste, era nítida sua decepção com o mundo. Sentia como se mais uma vez tivesse perdido o foco, não sabia mais que estrada pegar, pra onde seguir, sem rumo, sem direção. Estava ali, estagnada naquele momento, estagnada naquele sentido, numa poça negra de melancolia. Sabia que não havia o que fazer alem de se resguardar, se interiorizar e rever suas verdades. Não queria amigos nem palavras doces, tudo aquilo parecia hipocrisia demais em sua vida, conselhos banais não adiantariam, palavras de conforto lhe trariam mais raiva e dor, então se calou. Fechou-se em seu casulo, em seu submundo, com seus pensamentos e suas idéias. Fez uma revisão completa, chorou por dias, muitos dias. Sentia uma dor profunda, às vezes não há nada mais ensurdecedor que o som do silencio, revirava-se em sua cama, era como se a torturassem de longe, a massacrassem telepaticamente.
No entanto ela sabia que uma hora isso tinha que parar e era exatamente por isso que ela estava ali, naquele isolamento profundo, praticamente se auto-torturando. Estava tentando ser terapeuta de si mesma, analisando suas próprias mazelas, tentando entender a causa de cada ferimento que ali havia, o porquê de tanto sangue derramado. E o mais engraçado, é que a vida é tão obvia que nesse momento não teria como não ser, poderia ser dramática a resolução mas foi como se ela piscasse os olhos e então entendesse tudo, de uma só vez. Bastou simplesmente ela dar um passo pro lado, olhar a sua verdade de longe e ver que ela não fazia o menor sentido, não mais. Nesse momento ela suspirou, suspirou profundamente, era como se as amarras tivessem afrouxado, como se tudo aquilo que lhe deixava com cores frias tivesse sido lavado, como se em um só segundo tivessem lhe pintado novamente de branco permitindo que ali outras cores lhe tomassem. Ela olhou pros lados, conseguiu olhar realmente, viu tantas outras verdades, verdades momentâneas, verdades que irão lhe convencer por algum tempo. E então chorou, lagrimas por ninguém, lagrimas por ela mesma. Poderia ter gritado, poderia ter reagido de qualquer forma, mas ela chorou, e há quem diga que foi de pura alegria.
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